sábado, 12 de maio de 2012

PLÁGIO POÉTICO NA CAPITAL DAS MISSÕES

Coluna de Mário Simon Plágio no concurso de poesia 01 de março de 2012 às 15:26 O Concurso Poema nos Ônibus, promoção da Secretaria Municipal de Cultura de Santo Ângelo, evento que já se estende por quase uma década, sempre contou com a parceria da Academia Santo-angelense de Letras para a seleção dos 52 melhores poemas e premiação dos três primeiros classificados. Essa sempre foi a função da Academia que indica um Corpo de Jurados e “seleciona 52 poemas e premia os três melhores”. Neste ano, o Concurso abriu um leque maior para que pudessem participar mais pessoas, especialmente os estudantes. Assim, o Concurso era dividido em duas categorias: uma Estudantil e outra Livre. Mais de trezentos trabalhos foram inscritos. Feita a seleção, ficaram 26 poemas da Categoria Livre e 26 poemas da Categoria Estudantil. Desses, foram premiados os três melhores de cada categoria. Como os jurados não abrem os envelopes onde consta a identificação dos autores, não era possível saber nem os nomes dos autores e nem a localidade desses poetas premiados. Veio a noite de entrega dos certificados e dos troféus para os premiados em 1º, 2º e 3º lugares de cada Categoria. Noite de festa, gente alegre, surpresas. Dias depois, um jornal publicou os poemas premiados e, surpresa maior: o primeiro lugar da Categoria Livre era uma cópia fiel de um soneto do poeta catarinense Cruz e Souza, o mais importante simbolista brasileiro. Como foi descoberto o plágio? Um dos concorrentes, o poeta santiaguense Clodinei Silveira Machado, exímio sonetista, formado em Letras e, casualmente, premiado em terceiro lugar, procurou a Secretaria de Cultura para informar que encontrara aquele poema premiado em primeiro lugar – O Assinalado – em seus livros. E que o autor não poderia ter concorrido, uma vez que Cruz e Souza partira há mais de um século. Imediatamente, a equipe da Secretaria responsável tomou providências e, passados alguns dias, a Academia, desclassificando o resultado e iniciou o processo de escolha de outro. Nesse ínterim, novo plágio foi descoberto: agora o segundo lugar, um poema intitulado Leve, cuja autoria é de Cecília Meireles. Ora, se o primeiro e o segundo lugares ficaram em aberto, o terceiro lugar subiria naturalmente para o primeiro lugar. Desse embrulhada, três fatos merecem ser comentados: a falta de preparo, quando não de caráter desses dois concorrentes plagiadores, a posição da Academia em relação a seus critérios e a singular situação do poeta Clodinei, classificado agora em primeiro lugar. A falta de preparo de concorrentes, que enviam textos de outrem como se deles fossem, está ligado às facilidades da internet e à incapacidade de criar algum texto próprio, em todos os gêneros. Hoje, o Ctrl C – Ctrl V está presente na maioria dos trabalhos dos alunos, tanto das universidades como do Ensino Fundamental e Médio. É o terror dos avaliadores (e a alegria de falsos escritores), pois que, sem pejo algum, sem lembrar que podem estar incorrendo em crime, alunos copiam um texto ou um poema, mudam-lhe algumas palavras, trocam o masculino pelo feminino, passam para o plural, reinventam a mesma coisa, fazem uma bela polenta, e acham que aprenderam alguma coisa assim. No caso dos plágios do Concurso em pauta, os dois concorrentes são alunos: um deles não compareceu para receber o prêmio; o outro foi representado pela professora. Ora, ora, pela professora... pode? Já os jurados foram muito felizes em classificar aqueles dois poemas: Cruz e Souza em primeiro lugar, e Cecília Meireles, em segundo. Poderia haver alguma coisa mais certa? A premissa que orienta os jurados é de que todos os poemas concorrentes são de autoria da pessoa que o envia, sem pestanejar. A priori, todos os concorrentes são honestos: caso contrário, seria partir da premissa de que todos são desonestos. E isto seria inverossímil, uma injustiça. Já quanto ao poeta Clodinei Silveira Machado, que exerceu com correção e lisura seu direito à denúncia do plágio do poema O Assinalado, viu-se numa situação ímpar, pois disputava os primeiros lugares com dois dos maiores poetas brasileiros, cada um no seu tempo, Cruz e Souza e Cecília Meireles. Não tinha como vencê-los. Não é fácil ser melhor do que Cecília ou Cisne Negro. No entanto, nenhum deles podia concorrer, a não ser através do dolo, do mau caráter de terceiros, incapazes de traçar um verso digno de um concurso como o do Poema nos Ônibus. Passada essa obnubilação, Clodinei tomou, merecidamente, o seu devido lugar, levando o troféu de melhor poema da Categoria Livre do Concurso Poema nos Ônibus – 2012

2 comentários:

  1. Olá, Vanderlei. Em primeiro lugar, parabéns ao Silveira por ter conquistado o primeiro lugar neste concurso com a legitimidade do seu talento literário. E, também por ter denunciado a falta de caráter dos concorrentes que se valeram de trabalhos de outros autores e trapacear. Em tempos de internet, isso é algo que muito ocorre nas escolas e universidades. É claro que, neste caso, a comissão julgadora tem o dever de pesquisar e procurar saber se aqueles textos realmente são originais. Pecaram pela premissa de acreditar que todos seriam honestos, mas infelizmente não foram. Fica o alerta. Mais uma vez: parabéns ao Silveira, que só "perdeu" para a Cecília Meirelles e para o Cruz e Souza, o que seria uma honra.

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  2. Clodinei eu conheço, meu colega de farda e de academia. Caráter ilibado, poeta de sangue... A propósito, ele ganhou o primeiro Concurso Aureliano de Poesia, criado pelo Centro Cultural de Santiago a partir de uma ideia minha.
    Não posso perder essa oportunidade de cumprimentar teu mano. Muito boa tua avaliação sobre o concurso em Santo Ângelo. Talvez faltasse aos jurados maior conhecimento de poesia, flagrando o plágio antes de dar o resultado e classificando o Clodinei já em primeiro lugar. Não fosse o próprio Clodinei tomar a iniciativa, o resultado não seria modificado.
    Um abraço!

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