quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

BRENO SERAFINI ABRE O VERBO

Por Breno Serafini

Na minha estada em Santiago, quando apresentei meu texto sobre literatura, muito estranhei a ausência da dita intelligentsia local. Período de férias? Calor demasiado? Talvez não.

O fato é que, com acertos e erros, o acontecimento de um Fórum para discutir literatura em uma cidade interiorana já é um mérito por si só. Pensarmos que ele se dispõe a uma integração latino-americana pelas letras, por que não? Que seja pelas margens, já que estamos longe demais das capitais, não? Mas bem próximos da fronteira, esse espaço que permite uma confluência de interesses que, se não for ocupado por alguém, alguém ocupará.

Assim só de preencher o vazio – e falo de vazio cultural – já é um grande acontecimento. Quem dirá os outros vazios, das pessoas, das gentes que se dispõem a falar sobre criação, sobre projetos de vida ancorados nas palavras.

Nesse aspecto, o Fórum foi um sucesso: aquele olho no olho de pessoas que repartem um pouco da sua experiência para falar de tudo um pouco e mais ainda de literatura já é um prenúncio de que coisas podem acontecer.

É nesse sentido que a ausência de algumas pessoas se faz sentir. A comunidade deveria estar em festa pela celebração ocorrida na Câmara dos Vereadores. Sei que trabalhar com cultura envolve dedicação, desprendimento e bastante boa vontade. São vários os obstáculos, a começar pela falta de verbas. Se não fossem as pessoas, que seria?

A Casa do Poeta Caio Fernando Abreu, nesse sentido, está fazendo história em Santiago. Espero que, depois dela, a cultura nunca mais seja a mesma, e que o somatório de esforços seja no sentido de construir, não de derrubar projetos. Se houver divergências, que se criem outras estruturas, concorrentes – no fim, todos ganharemos.

O fato de a Cidade contar com um movimento cultural forjado pelos jovens deveria ser motivo de júbilo. A experiência dos mais velhos serviria de farol, nos momentos de tempestade. Não tem sentido fazer tempestade em copo dágua. E não traz luz nenhuma. Aos jovens, com sua inexperiência e criatividade, fica reservado o papel da ousadia, já que criar implica riscos. E de erros é feita toda a obra humana. Quem não comete erros?

Talvez o maior erro seja o de não reconhecer que algo está sendo feito. Ou pior ainda, desqualificar. Sugiro o contrário: somemos esforços para que a coisa cresça e, crescendo, haja espaço para todos.

Só pelo fato de haver uma editora (comunitária) na Cidade, isso já diz muito. Na tenra idade de seus dois anos, a Casa do Poeta já fez muito. E fará mais. Ela tem meu total (e crítico) apoio. O Museu da Música, o Selo Oracy Dornelles – tudo são projetos. E projetos precisam de pessoas para sair do papel. Sem esses jovens, nada estaria acontecendo.

Vida longa à Casa do Poeta, vida longa ao movimento cultural da Cidade. “Santiaguenses de todo o Estado, unimo-nos”.

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